É verdade: viver em um país diferente, principalmente quando se está em caráter definitivo, é como se fosse uma nova vida, uma nova existência.
Como reencarnacionista, acredito que vivemos várias vidas, no passado e viveremos também no futuro, para que possamos adquirir todo o conhecimento intelectual e moral até à perfeição. E nessa crença, sinto-me exatamente como se estivesse em uma nova existência... mas em contacto direto coma lembrança da vida passada. Com a lembrança de todas as coisas boas e difíceis, todos os parentes, amigos, colegas, enfim, com todos os companheiros que por pouco ou por muito tempo partilharam comigo a mesma estrada.
Estou realmente vivendo uma vida totalmente diferente da anterior, e quero dividir consigo essas impressões...
É amigo, estou bem, com "alguns" quilos a mais,
tentando caminhar diariamente, trabalhando em um projeto do ESDE, estudando
grego (eternamente, acho) pensando em um projeto de ensino do idioma português (apenas especulando), convivendo com os filhos nessas férias sob o sol de Atenas, curtindo o
carinho canino que vive aqui conosco - serão 4 nos próximos 12 meses - e
assistindo muitos filmes (legendado em Português, claro!).
Tenho também um blog - esse blog - que nem sempre escrevo, pois é preciso
inspiração e razão - tenho pouco para falar de mim mesma e nem sei se minhas
ideias são assim tão interessantes para se ler.... hoje prefiro mais ouvir,
ler, do que ocupar os amigos com minha 'falação'... como essa...rsrsrs...
Ah, e já ia esquecendo: também jogando no facebook alguns jogos que
estimulam o raciocínio lógico, memória e velocidade. Mas não no meu endereço de e-mail pessoal, um segundo endereço,
pois não quero misturar com minha vida pessoal com parceiros de jogos que não conheço bem, e nem incomodar meus amigos com
pedidos de bônus, vidas, etc, etc, etc...
Os amigos aqui são pouquíssimos, bem menos que os dedos de
uma das mãos (incluindo Portugal), mas os amigos da "minha vida anterior" são tantos, que
nem consigo falar com cada um deles 1 vez por mês, ou por semestre, ou por ano... sinto
falta e ao mesmo tempo sinto-me tão bem acompanhada das lembranças, das marcas,
da troca de afeto, das palavras, dos sentimentos, das experiências vividas, que é como se falasse com cada um em particular diariamente. Então não estou longe...
Em minha oração da manhã peço ao Pai por todos, e mentalizo como se sobrevoasse, todos os locais por onde vivi e conheci e, com isso, falo sempre com cada pessoa com quem estive. E como é bom lembrar e ser lembrada!
Aqui vivo uma experiência que jamais imaginei ou pensei
conseguir viver, sob todos os aspectos: só e ao mesmo tempo sem solidão; sem
trabalho e ao mesmo tempo com tantas tarefas; sem poder falar por problemas
linguísticos mas, ao mesmo tempo, com
tantas palavras ao meu redor emocional; sem o ambiente espírita, que era a fonte, o alimento de minh'alma, mas com muita fé
dentro de mim e o espiritismo vivenciado no meu dia-a-dia.
Quem me conheceu nos últimos 30, 40 anos de vida no Brasil, nem me reconhecerá
pela mudança tão brusca de vida - 180 graus... para quem tinha 12, 14h de
trabalho diariamente e o dia todo de domingo, não dá para acreditar que estou
feliz com o ritmo calmo e reflexivo da vida que tenho hoje...
Se eu, quando tinha 30, 40 anos, pensasse em viver como agora, eu simplesmente diria "em pouco tempo estarei em depressão". Não que esteja imune a este mal, todos nós temos episódios, e fiquei por muitas vezes deprimida ou melancólica antes da mudança, e era com muito mais frequência e intensidade. Aqui só fico muito mais pela família do que propriamente por mim, pois estou em paz e sinto-me feliz com as minhas escolhas.
Sabe, às vezes eu paro e me pergunto "por que não estou triste ou deprimida por essa mudança de vida", me espanto, penso: "a ficha ainda não caiu, vou me entristecer quanto menos esperar.... etc, etc, etc....".
Mas imediatamente empurro para longe esse pensamento negativo. Só quem quer arrumar doença é que fica inventando onde não existe: como é mais fácil acreditamos que tudo dará errado, mesmo quando está dando certo!
Eu, uma pessoa que viveu de forma organizada, planejadamente, vencendo os obstáculos, aceitando os que não era possível, sempre ativa e cheia de vontade de aprender e partilhar, vivo agora como uma pessoa 'analfabeta', onde tudo o que aprendi de conhecimento intelectual e experiência de vida do dia-a-dia não se aplica aqui, muitas vezes pouco ou nada... e estou feliz, estou bem, estou em paz.
Qual o segredo? Nada de fórmulas mágicas ou grandes eventos, é simples:
- Uma dose de maturidade para viver com mais calma, com mais equilíbrio, fugindo da tendência a ser workaholic, uma pessoa viciada no trabalho e na adrenalina da tensão. Hoje esse comportamento é considerado um vício, que precisa ser tratado terapeuticamente.
- Encarar a atual 'ignorância' que tenho da vida e das coisas práticas do dia-a-dia, como uma nova oportunidade de ser aprendido, sem cobranças e metas, e até optar pelo que não preciso mais aprender, porque não mais importante.
- Trabalhar a minha humildade, acreditando em todos os diplomas e títulos que adquiri na minha carreira profissional é agora passado, e aqui eu sou apenas a Vera, apenas trazendo na bagagem meu aprendizado moral e emocional. Os papéis e documentos, estão muito bem guardados e vão todos muito bem, obrigada! rsrsrs...
- Desejar uma vida simples, olhar o horizonte diariamente agradecendo tudo que recebi e por tudo que não consegui, pois não era necessário.
- E, concluindo, não menos importante mas imprescindível: Otimismo e Esperança
Saber ver o mundo, ouvir o mundo e viver no mundo, sem ser do mundo, positivamente e sempre com um sentimento de gratidão e de alegria. Pois a vida é para ser vivida, e não temida.
E você, como está? Gostaria de ouvir sua voz, ver-lhe e compartilhar suas alegrias e tristeza, como compartilho aqui consigo. Sua imagem está em minha mente e essa lembrança me aquece e alegra o coração... E meu e-mail é e será sempre uma janela aberta entre nós.
Até breve!