(continuação do texto de 03/07)
É fato, e
não ha como negar: a Grécia está em crise... Portugal está em crise... a Europa
está em crise... o Brasil está em crise: o mundo todo está em crise, mesmo os
países considerados ricos e abastados.
Mas o que é
"CRISE"? As várias visões socioeconômicas já apresentam explicações ao excesso, por todos os noticiários, por profissionais devidamente qualificados
(muito mais do que eu) ou ne tanto, onde se analisa, identifica causas,
diagnostica consequências e enfim prescreve uma 'bula' mágica de sucesso.
Dependendo da latitude e/ou longitude, a seriedade com que se enfrenta uma
crise é bem diversa. É um paradoxo, mas o Brasil viveu e vive tantos tipos de
'crises', cada uma delas passou a ser considerada fato 'normal', quase cultural... Exceção para os movimentos sociais atuais: acredito que o povo cansou!
O
brasileiro vinha sempre pulando de 'amarelinha' (um brincadeira em que se traça no chão
com giz 'casas' onde cada jogador deve jogar uma pedrinha e pular até alcançá-la,
e retornar, sempre pulando num pé só), as chamadas 'amarelinha da crise': a econômica,
a troca de moedas (várias), as taxas extras sobre a gasolina, inflação, retenção de poupanças, programa do
álcool, regras de aposentadoria, a educação, a saúde e, nos últimos tempos, a
violência urbana crescente e descontrolada e a corrupção ativa e passiva em todas as esferas
dos poderes públicos e privados...
Na Europa só se
fala em "crise"(PT) ou "crisis" (GR); e
"troica", que vem a ser o trio de instituições que coordenam as
finanças na Europa. Essas palavras tornaram-se universais de todos os
idiomas, creio eu.
Um adendo à
essa questão: quando a crise na Grécia e em Portugal tornou-se mais implacável, observei nos noticiários o crescente interesse e a direção do foco do bloco econômico sobre
a China - maior potência econômica, grande parceira, alguém a se buscar
alianças, etc... Mas não será isso um paradoxo??? Claro que sim!
Por que? Vou
tentar explicar meu raciocínio. Considerando os últimos anos de história da China,
após o fim da 2ª Grande Guerra até o dia de hoje, e partindo do suposto que realmente
a China possui hoje um dos maiores capitais acumulados do planeta, vale perguntarmo-nos:
1. Então o povo vive com educação e saúde
em grande nível? NÃO.
2. O povo tem liberdade de ir e vir? NÃO.
3. As famílias tem liberdade de culto e
crença? NÃO.
4. As pessoas podem mudar de cidades ou
povoados como e quando desejam? NÃO.
5. A expectativa de vida é alta? NÃO.
6. Os empregados são bem remunerados? NÃO.
7. Os empregados tem direitos sociais
assegurados, como férias, 13º salários, fundos de previdência e de seguridade?
NÃO.
8. É proibido o trabalho infantil? NÃO.
9. Há democracia e liberdade de expressão?
NÃO.
10.Os casais sempre puderam ter quantos filhos
desejassem, tendo esses filhos em ambos os sexos com o mesmo tratamento e assistência do Estado?
NÃO!!!
Cansei de perguntas, que todos nós já conhecemos as respostas, mas ouso
fazer mais uma: Será que foi a soma de todas esses NÃO's, que definem a 'qualidade
da cidadania' do cidadão chinês, do ser humano nascido em uma civilização das
mais antigas do planeta,.. o fator que estimulou as grandes indústrias da Europa e dos
Estados Unidos a produzirem seus produtos "Made in China"??? Infelizmente acho que sim.
Lembro que ao conhecer meu esposo, ele se recusava a comprar qualquer
coisa 'made in China/Tawan/..." por serem de baixa qualidade e os trabalhadores
de lá serem tratados de forma desumana. Agora, vivendo aqui na Europa, já convenci-o
a desistir da exigência, porque não se compraria uma infinidades de itens como camisas, calçado, eletrodomésticos,
etc, etc sem ser "made in China"...
Há agora um movimento inverso na Europa em geral, e no setor alimentício da Grécia em particular, de comprar-se produtos nacionais mesmo que custando um pouco mais e com isso comprando-se um pouco menos, para valorizar e
sustentar a economia local: uma aula de cidadania e de solidariedade.
Se você perguntar "por que o que é nacional é mais caro", a resposta está nos subsídios aplicados pelos países ricos pela exploração de seu cidadão, aos alimentos exportados. Há outras razões, claro, mas esse não é o foco do nosso 'papo'.
Quando ainda morava no Brasil, assisti dois comentários divulgados
na TV sobre os franceses e italianos. No primeiro, falava que o
francês trabalha em média 36h e meia por semana, reservando as horas livres
para sentar nos cafés, conversar, ler, passear com a família, qualquer
atividade que lhe traga lazer.
A outra dizia respeito ao verão na Itália, onde os "romanos nesse
ano (pela crise) não iriam sair de férias. Assim, como Roma já tem um tráfego caótico, ele ficará insuportável pela soma da população que não viajará mais os turistas.
Qual é então a diferença entre Europa e China?
· A Europa
está em crise porque melhorou continuamente a vida do cidadão, principalmente
após as guerras, quando a democracia invadiu todos os países, inclusive os que
ainda pagam para terem reis.
· A China é
rica e pode emprestar dinheiro porque explorou continuamente, por milênios, a
sua população, escravizando-a.
QUEM GOSTA DE CRISE? NINGUÉM, mas prefiro viver eternamente em crise,
com o cinto apertado e com pouco, a viver sobre o luxo de uma política
opressora!
Na primavera
de 2012 comecei a cultivar uma horta, bem pequena, nas paredes de minha varanda: 3
canteiros suspensos de plástico, retangulares (Leroy Merlin, sem querer fazer
propaganda) e em cada um plantei 2 ou 3 temperos: manjericão, salsinha, salsão,
orégano, hortelã e alecrim. No Rio eu tinha meu "jardim suspensos da
Babilônia", (porque o espaço pequeno me fazia pendurar os vasos), mas
agora eu tenho a minha "horta suspensa de Atenas"! Incluindo
também um cacto próprio para curar queimaduras e irritações de pele...
Desde
então temos passado a temperar a comida diretamente dessa pequena e
perfumada horta. Mas, o que essa minha experiência de jardinagem
tem a ver com crise???? Acho que muito.
Minha primeira
reflexão enquanto podava-as, em um determinado dia, foi que todo o tempo que
vivi como cidadã urbana jamais cultivei nada comestível, nunca
me dei ao luxo de ter uma horta como essa, simples, fácil de manter e pode ser
adaptada em tamanho e variedades em qualquer área ou corredor arejado de um
apartamento, de qualquer apartamento ou moradia. Em uma casa então, nem se
fala.
A crise nos
ensina a valorizar
pequenos e simples prazeres, que estão ao nosso alcance mas nem percebemos,
como o sabor de uma comida com temperos cultivamos pelas próprias mãos. Não há
palavras para explicar a diferença...
Aqui não se
tem empregadas em casa - ninguém aqui tem. Só uma faxineira, que se paga por
hora, não por tarefa.
A crise nos
ensina a reduzir
a bagunça, a cultivar entre todos hábitos de organização e de divisão de
tarefas. E também de cuidar da saúde, não sendo escravo do dinheiro para dispor
de uma parcela para a faxina, ajudando na manutenção de trabalho e com valores
mais dignos.
A crise
também pode
nos ensinar a evitar o paternalismo do "deixa que eu faço, coitado, ele
não faz direito mesmo..." ou "ele trabalha tanto...". Seja
'direito' ou 'torto' o serviço, muito ou pouco, ninguém da família foge da sua
parcela de responsabilidade na comunidade familiar. Não há toalhas
largadas sobre a cama; louça (ou loiça) na pia; copos sujos, migalhas no chão;
meia suja na sala, sapatos espalhados...
Incrivelmente a crise foi de grande ajuda para a nossa casa estar sempre arrumada, acredite!
A crise nos
ensina a consumir
menos, diminuir estoques de comida, de inutilidades, a viver com mais simplicidade,
a equilibrar gastos, a programar despesas, organizar planejamentos, a dialogar
com todos, buscando soluções e exercitando assim a solidariedade.
E a
solidariedade se traduz em ajuda ao próximo, ao menos afortunado, ao que hoje
está em seu período de penúria, pois não sabemos se amanhã seremos nós que
estaremos nessa condição. E não refiro-me à penúria dos prazeres materiais de
salários, passeios ou restaurantes, mas de outras penúrias mais sérias e que a
todos podem nos atingir e para as quais não temos como controlar: a do
desemprego, da doença, da falta de remédio, da solidão, do ombro amigo, do
esquecimento, da dor.
Esta semana
ocorrem passeatas em Atenas contra mudanças que estão sendo votadas. E um professor com a ameaça de ficar desempregado, foi categórico: "não importa quanto eu ganhe ou onde
trabalhe, mas eu quero poder trabalhar!". Não é uma frase demagógica pois conheço-o e
admiro-o, mas a consciência de que o momento não é o 'ter' mas o 'ser': ser trabalhador e não ter muito dinheiro.
É preciso que a
dificuldade bata à nossa porta para nos darmos conta de quanto a nossa vida é abençoada, de quanto
generosamente a Providência Divina nos provê o necessário para viver. Nosso
problema é que não queremos só o necessário - queremos MAIS!
Duas certezas eu tenho na vida, e acredito de forma absoluta, por tudo o que vivi e aprendo diariamente: nada é para sempre, tudo passa; e não estamos andando para trás com a crise: ela nos ensina a dar um passo para trás, nos equilibrarmos sob novos patamares, para seguros andarmos para a frente!
E se a crise é
uma necessidade - pois que nada acontece sem a permissão do Pai - ao invés de
arremeter-mo-nos contra ela, que a transformemos em aliada: no aprendizado do pouco, do
natural, do solidário, da simplicidade e da caridade, nos esforçando em ampliar
nossa Fé raciocinada, reconhecendo nossa filiação e crendo e confiando que há
um propósito maior para a vida de cada um de nós: o de sermos felizes em dar
felicidade a quem não a possui. E de viver não em palavras, mas em atitudes.
Só temos tempo para o que é
prioritário... Se não começamos hoje, nunca começaremos. Cárita é nossa referência, lembrem-se disso?
Bjs a
todos!!!!!
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