2013-07-03

APRENDIZADO PELA CRISE I


Há muito que gostaria de conversar um pouco sobre as mudanças que acontecem ao meu redor. Às vezes falta-me tempo, ou inspiração, ou outra preocupação paralela. Ou ainda não é o momento de ocupar seu tempo... 

Tenho percebido cada vez mais a riqueza que é a nossa vida diária, com tantas experiências e aprendizados. E não é somente uma questão pessoal da mudança de uma cidade ou país, mas é principalmente dentro da rotina diária que essas singularidade e valor acontecem, por onde costumamos transitar durante anos de nossa vida  sem darmos-nos conta. Muitas vezes são precisos vários períodos de existência para poder olhar para trás e perceber as mudanças, as bagagens e história de vida que construímos. 

A vida é uma constante transitoriedade e mutação. Nada é definitivo. Nada está sob o nosso controle rígido, tanto isso é verdade que nem sempre alcançamos o resultado desejado. Tudo é uma grande metamorfose contínua, onde tiramos nossa 'velha' casca, mudando e evoluindo diariamente. Basta sabermos 'guardar' muita esperança e otimismo dos períodos positivos, para compensar a carência nos negativos. Seja esse 'guardar' um aspecto material ou emocional. Ou ambos! E ao final de um ciclo completo, poder aprender a lição que este nos deseja ensinar!

Ciclos, períodos... Durante a universidade (e lá se vão umas poucas décadas), surgiu um programa (algorítimo) que calculava o biorritmo da vida, sob 3 aspectos: saúde, emocional e profissional. Cada um desses aspectos possuíam um comportamento senoidal, mas as três senoides estavam sempre defasadas, em diferentes ciclos. Traduzindo: as 3 ondas tinham uma forma ondulatória de uma senoide  com períodos positivo e negativo (altos e baixos) formando um ciclo completo e que se repetiam indefinidamente. Mas as 3 ondas não 'caminhavam' juntas: a saúde podia estar positiva mas a profissional estar negativa, p. ex. Em uma determinada época sempre havia pelo menos uma delas transitando no semiciclo negativo.


A figura acima representa um pouco dessa teoria. Não sei se ela possui alguma fundamentação científica (ou é mais uma forma de iludir) mas ao refletir-se sobre nossa história individual, percebe-se que a vida são ciclos que se repetem. E, apesar dessa repetição, nossa bagagem está sempre a mudar, somos capazes de amadurecer, rompendo barreiras antigas se assim o desejarmos.

Mesmo quando recusando-nos a mudar, quando a 'teimosia' é grande, 'mais-dia-ou-menos-dia essa situação de autoimobilização passa, e damos um passo á frente. É verdade: a recusa já é um sinal de mudança, uma transição, um pequeno passo...

"A vida está difícil". Essa frase pode ficar mais completa: "A vida não é difícil, ela está difícil". O verbo "estar" significa uma transitoriedade natural e imanente da vida. Há uma frase que minha mãe costumava dizer: "Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe"

A primeira parte dessa frase pode parecer negativa - Não há bem que sempre dure - nossa, isso nos diz que a felicidade terminará!!!... Mas a 2ª parte trás um conforto imenso: nem mal que nunca se acabe

Isoladas, essas partes traduzem pessimismo (1ª parte) ou otimismo (2ª parte). Juntas, somadas, elas representam o equilíbrio da vida, ora positivo, depois negativo, e novamente positivo... e por ai vai. Ciclos que se repetem, mas sempre com novas experiências, em equilíbrio com tudo que nos cerca.

É nesse momento que surge um elemento novo nessa equação, a FÉ; e com as suas duas vertentes: a fé humana e a fé divina. Todos nós as possuímos, faltando talvez usar essas forças a nosso favor. A fé humana é consciência  que o homem  possui de suas potencialidades e, aplicando a sua vontade, empenha-se em realizar uma determinada ação para alcançar um fim almejado. A fé divina é a consciência da finitude dessas potencialidades de que somos dotados, passando a depositar mais confiança em Deus que nós mesmos. É em suma, reconhecermo-nos humanos e falíveis, um exercício importante e necessário de humildade perante o Senhor da Vida

Quando acreditamos apenas na fé humana, nossos atos  traduzem presunção e orgulho. Quando acreditamos apenas na fé divina, nossos atos  traduzem fanatismo e acomodação. 

Desenvolvendo a nossa Fé humana e divina, nossos atos  traduzem confiança em Deus e amor ao próximo, pois não há fé sem caridade,não é possível alcançar a felicidade almejada, se ela for fruto do sofrimento de outrem. Quando essas preocupações tornam-se o foco de nossas ações, os resultados alcançados traduzem-se em boas obras, em solidariedade, ética e responsabilidade. Acreditando em nós e na ajuda divina, nunca nos sentiremos desamparados.

E é neste momento de crise em todos os cantos do planeta, de todas as formas possíveis, é que vemos a nossa Fé ser colocada à prova!

Se estamos pessimistas, achando que tudo irá piorar, estamos negando nossa filiação DIVINA. Que pai daria uma serpente a um filho? Será que cada pai e mãe da humanidade é melhor' pai' que Deus? Será que só nós é que sabemos o que nos é melhor? Será que Deus está 'ocupado' e nos deixou no caos???? É querido amigo, quando esse é o nosso discurso, infelizmente o diagnóstico é de que somos materialista, por mais espiritualistas que nos esforçando em externar, independente de crença.

Por que não fazer-se um exercício, invertendo nosso ponto de vista (que é sempre parcial!): já que sempre há algo difícil acontecendo em nossas vidas, será que essa dificuldade tem algo a nos ensinar?  Quando não alcançamos o que queremos, será que ELE está nos sinalizando que precisamos nos aperfeiçoar em outra direção ou potencialidade? 

Quem não gosta de chocolates e um bom doce?  Mas você daria todo o chocolate que uma criança quisesse comer, no horário das refeições? Ou ainda, não levaria uma criança à escola porque 'lá é chato'; ou no hospital para tomar vacina, porque 'dói'? Claro que não, um adulto tem condições de entender isso, mas a criança não: ela vai achar que somos maus ou que não a amamos suficientemente. 

E nós, será que não estamos neste momento orando como crianças à Deus, pedindo-lhe que "dá-nos hoje o chocolate nosso de cada dia" e "livre-nos de ir à escola, que é chata, e tomar vacina, que dói"? Independente da idade que temos, não gostamos de ser contrariados em nossos desejos, muito menos de nos sentirmos prejudicados... E ai começa a nossa 'mal-criação' com Deus, murmurando, reclamando, mostrando-nos mais infeliz do que realmente somos, e mais prejudicados do que é verdade, etc. E a culpa disso tudo passa a ser, claro, ... de Deus!  

"O que fiz para merecer...."; "Isso é uma injustiça!".... e por ai vai os murmúrios, verbais ou mentais! 

É preciso refletirmos e conectar as peças do 'quebra-cabeça' (puzzle) de nossa vida: cada não que achamos que a vida nos dá, é na verdade um 'agora não' ou talvez um 'você precisa tomar esse remédio amargo para se curar'. Cada sim e cada não são respostas de ajuda da Providência Divina, ajudando-nos no aprendizado e evitando um mal maior, a nossa ruína moral.

Pesquisei links há bastante tempo atrás, de um site português (em grego seria mais difícil, claro), mas ainda atuais sobre a crise na Europa. Os dois primeiros links  onde podemos assistir um aspecto da crise que abala o mundo. O 3º mostra a variação monetária do salário mínimo na Europa:


Não há como comparar-se aqui o custo de vida entre os países, mas é possível ver a queda provocada pela crise no salário mínimo em alguns países da Europa (não entrou a Alemanha e a Itália, por não possuírem salário mínimo).  

O salário mínimo na Europa representa o "mínimo" para uma família de 4 pessoas precisam para viver. Percebe-se claramente que a Grécia sofreu significativamente com a crise, como também a Inglaterra, mesmo usando ao libra esterlina. Mas Espanha e Portugal estão em situação delicadíssima.

Essas notícias nos lembra que precisamos repensar nossa forma de vida e até os desperdícios de que nos habituamos em períodos mais abastados.

A crise nos traz uma grande lição esquecida: a de que temos de viver de acordo com os tempos, e não com os nossos hábitos antigos ou o nosso salário atual.

Há uma passagem do antigo testamento onde um escravo israelita interpretou o sonho do faraó que profetizava 7 anos de fartura e 7 de carência... É, não há bem que nunca dure, nem mal que nunca se acabe. Se não nos sabemos viver com pouco, mesmo no muito, como conseguiremos viver com pouco quando a carência nos assaltar? Se hoje temos emprego e renda fixas, a  história nos ensina que amanhã essa balança pode se alterar e o muito tornar-se pouco. 

Precisamos reconhecer que vivemos em grande fartura, frente a toda essa população sofrida e carente. E isso é um exemplo na Europa, mas e na África, América Latina, Ásia... o Brasil, que se recebe bem menos como salário 'mínimo' (uma utopia), infelizmente o custo de vida é muito mais caro que aqui. Somente ao conhecer o dia-a-dia dos países é que se pode perceber as diferenças: não há apenas pobreza no mundo, há miséria em todos os sentidos.

Precisamos mudar nosso olhar de pessimista para otimista, se queremos realmente mudar para melhor o mundo. E esse começo começa em nós!*


(*continua na próxima publicação)

1 comentário:

  1. Mensagem de Antonio M., por e-mail:

    Sobre a mensagem do blog, tenho um princípio que se assemelha a tua
    narrativa (vamos chamar de narrativa, pois assim se parece algo historiográfico). "A vida nada mais é que uma senoide". Ela é cíclica.
    A área superior da linha divisória representa um superavit energético;
    a área inferior um deficit energético. Quanto maior a amplitude da senoide, maior será o sucesso e a desgraça. Quanto menor, menos
    sucesso e menos desgraça. O importante da vida é trabalhar num ponto médio dessa amplitude. Se o ser humano ao trafegar acima da linha divisória guardar parte desse superavit energético com certeza ela atravessará melhor a sua passagem por baixo da linha divisória. O sucesso não será tanto, porém a desgraça estará mais contida.

    Para terminar tenho outro princípio da vida que me ajuda bastante: "A
    vida nada mais é que um balcão. Depende de que lado você está, ora
    cobrando, ora sendo cobrado" Aquele que consegue se colocar nos dois
    lados, com certeza terá uma visão ampliada da vida.

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