2013-06-26

E O POVO FOI ÀS RUAS!



É verdade: o povo foi às ruas... Aos amigos que participam do movimento e/ou manifestações pacíficas e conscientes: no dia 20/6 vocês escreveram o início de uma página da história mundial! 

Já pensaram nisso?...

Excetuando o que pude presenciar em 1968, quando era ainda criança, nunca assisti efetivamente o povo brasileiro assumindo as rédeas de seu destino.
 As manifestações das "Diretas Já" e "Fora Collor", foi um pequeno embrião, quase um ensaio se comparado com o momento atual.

Na Europa ocidental é uma característica ir às ruas quando os políticos, que representam o povo, adotam medidas impopulares. Portugal vive agora, com a troíka e a crise, um movimento de renascimento e de saída da acomodação. Durante o mês de outubro/2012, após às 22h, vi circulando uma multidão de pessoas pelo metro e pelas ruas da cidade do Porto. 

Eram pessoas de todas as idades, alegres e otimistas: eram os primeiros movimentos contra a crise. Pelas próprias palavras de amigos portugueses, o povo português é muito tímido, acomodado nas questões de manifestações públicas, mas agora saíram de seu individualismo e  reencontraram o caminho da liberdade de expressar sua opinião!

O mesmo está a acontecer no Brasil.

Comparativamente à outras civilizações ocidentais - Grega: 6.000 anos; e Romana: 3.000 anos - o Brasil, com seus 514 anos de 'descobrimento' e fundação, e pouco mais de 124 anos de regime republicano e menos ainda de sistema democrático pelo voto, é quase um bebê, uma criança... mas engana-se quem acha que é infantil. Pode até ser inexperiente nas questões de cidadania, mas não é mais ignorante, aprende rápido, e é fácil provar isso! 

Em pesquisa do IBOPE sobre o movimento do dia 20/06/2013, o perfil dos entrevistados era:

Sexo: 50% Masculino e 50% Feminino.
Idade: entre 14 a 29 anos: 63%; e acima de 30 anos: 37%.
Escolaridade: 49% com colegial completo ou ensino superior iniciado; e 43% com Superior completo.
Renda familiar: 45% com renda até 5 salários mínimos; e 49% acima de 5 salários mínimos;
Atividade produtiva: 76% trabalham (24% não trabalham); e 52% estudam (48% não estudam).

A pesquisa sinaliza que 2/3 da população presente nasceu após 1982. Esses jovens da nova geração não presenciaram fatos de repressão da história brasileira, e agora, como vejo em minha própria família, são jovens com coragem,  idealistas, solidários, participativos e com a energia própria da juventude de lutar pelo bem maior.

O Brasil já teve uma juventude como essa, mas ela desapareceu após 1968. Lembro-me claramente que quando eu estava estudando para prestar vestibular em 1978 (em plena crise mundial do petróleo e do fim do "milagre econômico brasileiro" - quem lembra disso?), ouvi o seguinte conselho para poder estudar em paz: "entre calada na aula e saia muda, não fale de política, não radicalize pois há espiões infiltrados"...

Mais tarde, já professora universitária, durante uma greve dos professores na década de 90 soube através de alunos do movimento estudantil, que estava sendo questionada a minha conduta na universidade. E eu explico: eu lecionava no curso de engenharia em várias universidades, à noite, e inclusive aonde me formei. Como havia uma foto minha na galeria de formandos, as 'autoridades' queriam saber da minha postura política e profissional em sala, pois já era a 2ª vez que eu participava de uma greve (a primeira foi como estudante universitária em 1979, quase 15 anos antes dessa).

Não há como escapar - durante alguns anos meus passos foram acompanhados. Mas sobrevivi e ultrapassei os 'cinquentinha' ainda com um olhar de esperança no futuro - a dureza da vida não pode destruir nossa crença no ser humano!

Li no noticiário recente que um dos manifestantes do atual movimento, e sua família, foram ameaçados. Não podemos e não devemos julgar a decisão tomada por ele em se afastar, pois é a consciência e a vida de cada um que está em jogo, e até acredito que o medo que dominou no passado o cenário brasileiro, traumatizou esse participante. O medo imobiliza, destrói toda a esperança...

Os tempos mudaram. O mundo mudou. A comunicação pela internet e pelas redes sociais libertaram a voz de todos nós! Essa força, nenhum ato repressivo pode destrui-lo. É a comunicação livre que divulgou o verdadeiro movimento de passeatas por todo o país. Na mesma pesquisa citada, os participantes souberam da manifestação de quinta (20/6) pelo Facebook (62%); e pela Internet e outros meios (29%). E mais: 

- 86% se mobilizaram para as manifestações através das redes sociais, como facebook e twitter.

- 75% utilizou uma rede social para convocar outras pessoas para a manifestação.

É uma demonstração da força de opinião pública, da liberdade de expressão e de se ouvir a voz de todos os cidadãos, em qualquer país, para exigir e opinar sobre os rumos de seu país e da sua sociedade.

Quanto ao movimento que acontece em Portugal, um facto interessante, e que não sei se é de seu conhecimento, é que Portugal foi fundado há 886 anos. Pois bem, o povo português, depois de centenas de anos na condição de dominação por reis incompetentes na administração do bem público, endividando o país continuamente, passando pela invasão de Napoleão, e culminando com uma ditadura facista de Salazar, por quase 40 anos, não há de duvidar-se que tais fatos demonstram que o povo também é jovem em questões de cidadania e de liberdade.

Minha mãe, que também era portuguesa, disse-me que o povo português só conseguiu lutar pela liberdade da Ditadura - na Revolução dos Cravos, em 1974 - porque Salazar estava morto. Isso é verdade, pois a ditadura salazarista foi tão opressiva, tão dura, que se manteve no poder por mais 4 anos mesmo após a morte do ditador.

A liberdade de expressar sua opinião e lutar pela suas convicções é tão nova para o povo português, como o é para o Brasileiro...

Se formos vislumbrar um pouco da história brasileira de pouco mais de 514 anos (infância!) de existência, onde o povo não atuou no movimento de Independência, nem da libertação dos escravos e nem o da Proclamação da República, não é difícil entender essa dificuldade... Em cada um desses eventos históricos, apenas uma pequena elite intelectual participou de alguma mudança. Mas o povo, como nação, nem sequer tomou conhecimento direto.

Todos os verdadeiros movimentos liberatórios na história brasileira se resume a uns poucos parágrafos nos livros de história - sabemos que a história é escrita pelos vencedores...

E em 2013, qual será o resultado desse movimento no Brasil? O futuro o dirá. Mas o que podemos verificar, ainda pelo resultado da pesquisa, é que:

- 66% acreditam que as depredações nunca são justificadas, independente das circunstâncias de um protesto;

- 94% acreditam que essas manifestações vão conseguir promover as mudanças que se reivindicam;

- 82% dos entrevistados indicaram que, além dos protestos, também não pretendem votar em candidato corrupto;

-  61% disse que tem muito interesse em política.

Quem já viveu ou vive no Brasil sabe muito bem como essas informações são importantíssimas e sinalizam que a mudança já começou há muito tempo, dentro de cada um...
Concluindo essa despretensiosa reflexão, gostaria de citar duas datas importantes para o cidadão grego, e que são feriado nacional:

25/03/1821 - Dia da Independência Grega - é a data de início da guerra de independência da Grécia contra o Império Otomano; e

28/10/1940 - Dia do Não ["Epeteios tou Ochi", Aniversário do "Não"] para comemorar a rejeição do primeiro-ministro grego à aliança com o ditador italiano Benito Mussolini, e que culminou com a invasão e ocupação pelas forças da coalizão no solo grego, durante a 2ª Grande Guerra.

Essas duas datas simbolizam Liberdade!

Que o dia 20/06/2013 seja um data a ser lembrada e comemorada no futuro pelos brasileiros! 

Que outros dias possam ser comemorados por cada povo que trabalha e deseja um país melhor para si, seus filhos e seus netos.

Que todos os brasileiros, portugueses, gregos, ..., enfim, todos os  europeus e americanos que neste momento realizam mudanças significativas em suas sociedades, como também todos os demais povos do planeta, possam pacificamente utilizar as redes sociais para semear a esperança e pintar o futuro com as novas cores da mudança para melhor!

E que venha a Liberdade da Cidadania! Viva!!!

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